Nightmare Wings - Gaia Online Vampire kiss: 2012

Linke-me


sábado, 26 de maio de 2012

CAPÍTULO 16 - Razão vs. Sentimentos

 A madruga fria e nublada de Forks nunca me pareceu mais linda. Eu fiz tudo com calma, e sempre com a mesma frase na cabeça: "Hoje é um novo dia". Simon saiu um pouco depois do almoço para pescar.
- Tem certeza que não quer vir?
- Tenho pai. Não sou chegada a pescaria.... - Eu estava mesmo preocupada é em cair na água.
- Esta bem. - Disse Simon, por fim - Nos vemos mais tarde Yasha, cuide-se. - Ele disse isso, deu um beijo em minha testa e saiu.
Fiquei parada ali pensando no que ele acabará de dizer. "Cuide-se" é uma palavra bem familiar por parte de minha mãe, que sempre temia o fato de eu fazer alguma besteira quando ficava sozinha em casa. Fiquei triste ao lembrar dela, mas logo tratei de esquecer para me concentrar em meu dia. Depois de separar as roupas para a minha volta na floresta, fiquei deitada lendo um livro no balanço da varanda suspirando, satisfeita. Tudo estava do jeito que eu queria que fosse, nada de Sandra, nada de Lauren, nada de Hiiro. Percebi que, enquanto pensava em Hiiro, eu acariciava minha mão, a mesma mão que tinha dado aquele tapa. Senti arrependimento por um lado, mas do outro eu sabia que ele tinha merecido! Olhei a hora, 17:30. Do jeito que eu estava lenta hoje, só sai de casa em torno de 10 minutos depois, as 17:43 se não me engano. Demo ficou triste por eu não leva-lo, mas sei que ele irá sobreviver. Pronta para a caminhada e uma possível chuva, eu andei firmemente até a floresta. Fiquei na trilha por alguns metros depois de entrar no labirinto de árvores, mas logo me aventurei a ir por entre a vegetação. Meu bom humor estava me fazendo esquecer as minhas Leis de Sobrevivência. Até que eu finalmente percebi uma coisa: Estava chovendo, não um chuvisco de Forks que começa e para, começa e para, ou uma chuva de volume constante como de costume, mas uma chuva que vai ficando mais forte. Meu capuz não ia me proteger daquilo e não iria dar tempo de voltar para casa. Suspirei e dei de ombros, não posso arruinar este dia por causa de uma umidade extra. Arranjei um lugar perfeito entre as raízes de uma árvore, abaixo de uma densa vegetação, a chuva aparentemente forte não conseguia impor sua força total através da vegetação, por isso só algumas gotas insistiam em molhar meu cabelo. Puxei o capuz.
 Fiquei sentada ali, por quanto tempo? Não sei, essa chuva teria fim? Não faço idéia, mas sei bem que parecia que ela estava me pressionando a ficar ali, como se quisesse alguma coisa. Suspirei de decepção. E então tentei passar o tempo observando os mínimos detalhes do lugar onde eu me encontrava, cada folha acima de minha cabeça, cada raíz onde eu sentava, enfim, tudo que a via para se ver. Foi quando eu virei para olhar a minha direita, não tinha percebido ele antes, estava tão quieto, meu coração deu um pulo e quase pensei que iria cortar meu peito e sair fora. Automaticamente prendi a respiração, mas seus olhos estavam fechados o que me deixou aliviada, ele deveria estar dormindo. Talvez estivesse a mais tempo aqui e nem me viu chegar, pensei comigo mesma, não tem motivo para ter medo. Olhei para a floresta, ainda chovia forte demais para eu me levantar. De fato a chuva não era tão forte assim, mas, com meu bendito azar, eu poderia muito bem escorregar, bater a cabeça numa pedra, ficar inconsciente com a cara em uma poça e morrer afogada. Então aproveitei a situação e, esquecendo mais uma vez minhas Leis de Sobrevivência, eu me inclinei devagar, apoiando meu corpo com as mãos na terra úmida, para olha-lo mais de perto. Suspirei, sem poder controlar isso, enquanto me segurava para não esticar o braço e toca-lo.
- Como esse cretino teve a cara de pau de fazer aquilo comigo? - Perguntei, sem pensar - Com tantas "cobaias femininas" por ai, porque justo eu? Será que não bastasse as minhas perdas, tive que passar por uma "tortura chinesa"? - Pensei um pouco no que tinha acabado de dizer - Talvez não exatamente uma tortura chinesa - então olhei com mais atenção para o rosto de Hiiro -, mas eu sofri muito com isso.
Esfreguei o olho ao perceber o acumulo de lágrimas, então fiz uma pergunta inocente.
- Hmm.... Será que ele esta dormindo mesmo? - Essa é uma daquelas perguntas que, no fato de não responderem já te diz exatamente o que você deseja saber.
- Não, eu não estou. - E ele fez o favor de responder, e depois abriu os olhos devagar para me observar - Eu estava acordado desde o início.
Já podem imaginar a cena: Hiiro me observando com seus olhos celestiais, e eu, congelada no lugar, desejando que isso fosse um sonho bobo e que eu acordasse naquele instante com Demo lambendo minha cara. Infelizmente percebi que aquele pesadelo era real.
- Seu.... Seu...... - Comecei a falar, mas eu não podia saber se estava com raiva ou era uma ação automática de minha parte. Achei melhor me calar.
Não terminei minha frase, só inspirei todo o ar de uma só vez pela boca. Logo me endireitei no meu lugar, limpei minhas mãos sujas de terra no moletom verde musgo que estava usando, cruzei os braços e olhei fixo para a frente. Hiiro, mesmo depois de tudo aquilo, me olhava como se aquela nossa briga nunca tivesse acontecido.
- Podia ter me avisado..... - Falei - Que estava ouvindo.
- Não queria incomoda-la.
- Saiba que falhou em sua missão. Sua presença é o suficiente para me incomodar! - Falei sem pensar, de fato não achava isso, eu amava te-lo por perto mas, é claro, não vou admitir isso.
- Nesse caso não há nada que eu possa fazer.
- Porque mentiu para mim? - Soltei essa sem pensar de novo. Mas fiquei aliviada, essa pergunta estava presa na minha garganta a algum tempo, e essa era a oportunidade perfeita para faze-la, não posso desperdiçar.
- Como? - Hiiro ficou confuso com minha pergunta. A algum tempo atrás eu achava que ele tinha amnésia, hoje volto a ter essa teoria.
- Todo aqueles momentos.... Foi tudo um jogo seu não é? Fingiu para mim que..... - Não consegui falar a palavra, então pulei para o resto da frase - só para me fazer pensar que tinha chance e depois você simplesmente jogou tudo pela janela.....
Hiiro ficou em silêncio, por um momento.
- Eu não queria fazer aquilo com você Yasha - ele falou de cabeça baixa e sussurrando, como se tivesse falando para si mesmo -, não tive escolha.
- Esta querendo me fazer de boba? Não teve escolha? Eu não te entendo! Você é sempre cheio de mistérios, e respostas sem sentido! - Minha voz tinha aumentado de volume, quase gritando.
Eu não consegui continuar com a bronca. Abracei as pernas, encolhida.
- Não precisava ter fingido Hiiro. Na verdade... Não precisava nem ter falado comigo. Nunca.
A minha voz foi a ultima coisa que se ouviu, depois só o som da chuva quebrava o silêncio. Pensei que seria assim para sempre. Então a chuva começou a parar, por fim. Comecei a me levantar devagar, olhando para o chão, estava prestes a seguir meu caminho de volta, mas então vi Hiiro se levantando e por alguma razão não senti mais minhas pernas. Fiquei imóvel o observando. Ele me olhou nos olhos, fazendo todo o meu corpo tremer.
- Sei que possivelmente nunca vai me perdoar. Mas acredite, é melhor assim. - Ele parou um momento, se virou para a direção oposta a minha - É mais seguro para você.
Não sabia o que falar, além de que as palavras estavam presas na minha garganta. Odeio quando isso acontece. Mesmo que eu quisesse falar não conseguiria.
- Aliais..... - Continuou Hiiro, enquanto andava para longe. - Eu não estava jogando. Em nenhum momento fingi meu sentimentos por você Yasha. - Era impossível não perceber a sinceridade em sua voz.
Esqueci completamente de como respirar, porque demorei quinze minutos para sentir o oxigênio no sangue fluindo normalmente. A essa altura Hiiro já havia sumido por entre as árvores.
Milagrosamente encontrei a trilha de volta para casa. Mas meu coração não parava de bombear o sangue com toda a força. Será que Hiiro estava falando a verdade? Eu realmente quis acreditar que sim. Por algum motivo quando fechei a porta de casa, corri para meu quarto, tirei minhas botas e cai na cama. Abraçando o travesseiro e suspirando. Cada palavra que ele me dissera ficou gravada na minha mente, como um símbolo de esperança. Era impossível não lembrar daqueles olhos azuis nos meus. Estava tão feliz que levei um susto quando Demo latiu, me avisando que Simon tinha chegado. Desci, pulando de dois em dois degraus, até chegar em Simon e ajuda-lo com os peixes.
- Teve um bom dia querida?
- Tive sim pai. - Respondi com um sorriso - E pelo jeito você também.
- É, hoje eles estavam mordendo a isca.
- Fico feliz.
Simon sempre fica mais alegre quando eu estou bem, talvez a minha felicidade radiante lembre a mim mesma na infância. A maioria dos pais sempre gosta de se lembrar dos filhos nessa época, Simon é assim. Talvez porque naquela época eu era menos melancólica.
 Pensei em ir a floresta outra vez no domingo mas deixei de lado essa ideia, afinal quais as chances dele ir lá outra vez? Tentei me focar somente na segunda-feira, que era dia de aula de biologia. Só que no domingo, depois de ter passado os efeitos felizes de sábado, pensei com mais atenção nas palavras de Hiiro.
- O que ele quis dizer com "É mais seguro para você"? - Perguntei a mim mesma.
Já estava anoitecendo quando decidi fazer uma lista de todos os fenômenos que tinham ocorrido nesses últimos meses, onde envolvia a mim e ao Hiiro. Tentei achar uma forma lógica de explicar cada um daqueles acontecimentos inesperados e até assustadores. Ao terminar, eu percebi que tinha feito uma lista de superpoderes. Arranquei a folha de papel do caderno, amassei e joguei longe. Fala sério! Superpoderes? Só se ele fosse algo não humano, e quais a chances?
Pensei em todas as respostas que se adaptariam a nossa espécie; humanos. Freqüentemente chegada conclusão que eu tinha imaginado cosias, ou eu sou mais distraída do que pensei, e acabei deixando passar algo que me desse uma alternativa mais lógica e possível. No fim, decidi juntar o que eu tinha conseguido com algo que se encaixasse com o fato de ser mais seguro para mim ficar longe dele. Infelizmente fracassei. Sentada na cadeira, derrotada, e olhando para a tela do computador, que estava em uma página do google onde eu tinha pesquisado sobre recordes mundiais do Guiness Book. Então me virei para os papéis rabiscados a minha frente e me dei conta de uma coisa: E o que eu tenho a ver com isso?, pensei, Se ele for humano ou não o que me importa? Não estamos juntos. O pensamento de não estar com ele, me fez sentir um vazio que eu conhecia; a solidão. A lógica diz que eu tenho que esquece-lo de uma vez, mas meu coração diz que eu o amo e não posso deixa-lo partir. Porque a vida não podia ter escolhas mais fáceis de fazer?!
Desliguei o computador e joguei fora todos os papéis de anotações inúteis que estavam em minha mesa. Abri meu armário para procurar um pijama, quando me deparei com alguns livros e um caderno. Logo lembrei da minha infância, quando vinha para cá eu ficava lendo a maior parte do tempo, ou desenhando. Passei a mão na capa do primeiro livro e recordei dos bons momentos que tive com Simon. Quando o abri vi vários desenhos que eu tinha feito, e, na ultima folha desenhada, tinha um esboço de uma pessoa. Eu tinha feito o básico do básico, e como eu era criança quando o fiz, estava meio que fora de proporção.
- Talvez eu consiga consertar isto aqui, e terminar o trabalho! - Falei para mim mesma.
Depois do banho fiquei pensando em algumas idéias do que eu poderia desenhar. Até que finalmente me decidi. Não terminei tudo, lógico, faltava muito para ficar perfeito. Deitei na cama sonolenta e totalmente exausta, depois de um dia pensando em alternativas de todos os gêneros meu cérebro não conseguia raciocinar mais nada. Preciso descansa-lo para amanhã, para poder usa-lo na escola.
Acordei extremamente mal, mas perfeitamente bem. Parece estranho, mas sei o que significa, hoje algo muito ruim vai acontecer e algo muito bom também. Quando eu pus os pés na área da escola, sabia que hoje era meu dia. Infelizmente Sandra não tinha faltado e então continuava a roubar a atenção de Tiffany, me impedindo de ter uma conversa com minha talvez-futura-ex-amiga. E pior: Não tinha só Scotty hoje no meu pé, Douglas também decidiu infernizar minha vida. Parece que a "coisa muito ruim" iria acontecer primeiro. Mas deixei isso de lado, porque se vou ser recompensada mais tarde, eu aguento. Por enquanto. As vezes eu agradeço por sentir que tipo de coisas vão acontecer. No caminho para a primeira aula, no corredor, eu vi Lauren e as amigas.
Lauren, parecia uma fera, tagarelando algo sobre ter acabado o trabalho e que ele não se aproxima mais dela. Fiquei feliz de início, mas percebi que ela iria descontar toda essa raiva em mim. Ela não esqueceu aquela vez em que Tiffany a enfrentou, dizendo que eu era melhor que ela. E, mais uma vez, a sensação de que eu iria me ferrar estava correta.
Aconteceu na hora do almoço. Eu estava andando tranquilamente com meus amigos, ignorando Scotty para ver se ele procurava a atenção da Tiffany. E tentando não cruzar olhares com Sandra, que andava ao lado de Tiffany, falando alguma coisa sobre as revistas do mês. Definitivamente não era o meu tipo de assunto. Mas eu não percebi a presença de alguém: Lauren e suas duas companheiras. Tinha acabado de entrar no refeitório, e andava bem atrás do pessoal, derrepente vejo Mariana passando por mim, e em seguida Angela, ambas correndo. Então foi a vez de Lauren. Senti a mão dela em minhas costas me empurrando para a frente, e em seguida ela passando por mim. O problema foi que perdi o equilibro, e quando tentei, inutilmente, me apoiar levei uma cadeira comigo. Pior é que a cadeira foi primeiro, então eu cai quase que por cima dela. Não totalmente, mas minha perna esquerda caiu com tudo junto a um daqueles pés de metal e, no impacto, me resultou em uma forte dor. Em segundos mais da metade dos alunos estavam rindo de mim.
- Yasha! - Ouvi Theodore gritar meu nome ao ver o que tinha me acontecido
- Lauren!!! - Para minha surpresa não era Scotty, mas sim Tiffany que, ignorando Sandra, se punha na minha frente para me defender.
- Que? Foi só um acidente! Culpa minha se ela é desequilibrada? - Pude ouvir o duplo sentido na ultima frase dela.
Lauren olhou para mim e sorriu querendo dizer: "Teve o que merece!". Depois juntou-se aos outros alunos, dando gargalhadas do meu azar.
- Esta tudo bem?
- Não Agatha.... Ai!.... Minha perna esquerda tá doendo pra caramba!
- Deve ser só por causa da queda, mas é melhor ir na enfermaria por um gelo nisso. - Falou Agatha, minha enfermeira de alguns segundos, ajudando-me a ficar pelo menos sentada no chão. - Consegue andar?
- Consigo.... - Tentei me levantar, mas não demorou até a minha maldita perna começar a doer - Eu acho....
Vi os olhos de Scott brilharem, a chance perfeita para ele. Mas alguém foi mais rápido.
- Deixa que eu levo ela. - Não! Por favor, tomara que eu esteja imaginando essa voz terrivelmente familiar.
Engoli seco, esperando que fosse alucinação, mas pela expressão de raiva de Scotty, e a de espanto de Agatha, Tiffany, Theodore e até mesmo de Sandra, sabia quem era. Como eu queria morrer.
- Esta tudo bem Yasha? - A voz de Hiiro estava bem do meu lado.
- Não.... - Eu gemi, com a cabeça baixa - Vá embora....
Ele riu.
- E-ela só machucou a perna, mesmo assim precisa ir a enfermaria pra colocar um gelo.... - Agatha falou, sua voz demonstrava surpresa e espanto.
A essa altura, ninguém mais estava rindo no refeitório, imaginei a expressão de todos vendo aquela cena. Eu corei um pouco.
- Vou cuidar dela - disse Hiiro. Pude ouvir o sorriso ainda na voz dele.
- Nem pensar! - protestou Scott
- Vamos Yasha, eu te ajudo a levantar - Hiiro estava ignorando Scott, isso deve te-lo aborrecido. Me pergunto porque ele ainda não atacou Hiiro; vá em frente tem o meu total apoio e torcida.
- Nem pensar.... Eu.... - Droga! Minha voz começou a falhar justo agora? Porque os meus sentimentos vencem a razão com tanta facilidade? - Não quero sua ajuda, estou muito bem sozinha!
- Sei.... - Foi a ultima coisa que eu ouvi de Hiiro.
De repente o chão desapareceu debaixo de mim. Meus olhos se abriram de choque. Hiiro me levantara nos braços com tanta facilidade que eu parecia pesar cinco quilos em vez de cinqüenta.
- Me coloque no chão! - Disse. Mas ele estava andando antes que eu terminasse de falar. Então percebi que a minha voz não tinha demonstrado a irritação que eu queria que mostrasse, mas tinha demonstrado timidez. Espero não ter deixado transparecer que eu estava, no fundo, gostando da situação, até mais do que eu deveria.
- Ei! - gritou Scott, já a dez passos de nós.
Hiiro o ignorou, de novo.
- Você não parece tão mal. - disse-me ele, sorrindo maliciosamente.
- Isso porque não foi você que caiu! - Falei.
Fechei os olhos, esperando ficar mais calma.
- Como você caiu?
- Eu senti.... Alguém me empurrando. - Falei, sem abrir os olhos.
- Aquela Lauren... Ninguém merece.
Fiquei em silêncio. Mas não tinha mais sobre o que falar. Ainda não. Não sei como ele abriu a porta enquanto me carregava, mas de repente o ambiente ficou mais abafado.
- Ah, meu Deus - ouvi uma voz de mulher arfar
- Ela sofreu um pequeno acidente no refeitório e machucou a perna esquerda - explicou Hiiro.
Abri os olhos. Estava na secretaria e Hiiro passava pelo balcão da frente ido para a enfermaria. A ruiva da recepção correu à frente dele para manter a porta aberta. A enfermeira com cara de vovó desviou os olhos, pasma, daquela cena romântica, enquanto Hiiro me carregava e me colocava no papel que estalava e revestia o colchão de vinil marrom da única maca. Embora eu ache que estava mais para embaraçosa, não sabia se, a essa altura eu já tinha parado de corar ou não, e se minha expressão ainda me entregava. Depois, Hiiro se afastou e a enfermeira estava analisando minha perna esquerda, ela pressionou-a um pouco, mas o suficiente para eu soltar um gemido de dor. A enfermeira balançou a cabeça, concordando.
- É, melhor tratar disso antes de virar um hematoma - concluiu, por fim, a enfermeira - Descanse a perna, vou trazer um gelo para por nela. - disse-me ela antes de sumir porta afora.
Apreciando aquele breve momento me ajeitei na maca e olhei discretamente para Hiiro.
- Não precisava ter me carregado. - Expliquei
- Você não viria se eu pedisse - rebateu ele -, de qualquer forma não queria que aquele Scotty trouxe-se você.
Parei por um momento, para analisar mentalmente aquela fala. Lembrei-me da nossa conversa na floresta. Mordi o lábio, mas não hesitei em perguntar.
- O que esta querendo dizer? - comecei - Com isso agora e... Aquilo na floresta?
A princípio, Hiiro não respondeu, só se aproximou de mim. Com as mãos apoiadas na lateral da maca, ele se inclinou até seu rosto fica a poucos centímetros do meu. Senti meu coração acelerando mas tratei de faze-lo se acalmar.
- Você sabe o que significa.... - Hiiro sussurrou para mim
Senti-me tentada a aproximar esses poucos centímetros e beija-lo, mas foi nessa hora que a enfermeira apareceu e ele se afastou. Maldição!
- Vamos então.... - disse a enfermeira, que eu já amaldiçoava na minha cabeça.
Nesta fração de segundos em que parei para observar a enfermeira colocar o gelo na minha perna, Hiiro desapareceu. Senti um completo desânimo, como se tivesse deixado uma grande oportunidade passar.

Eu não estava tecnicamente mancando, mas a ligeira dor idêntica a de uma pedra sendo pressionada contra a minha perna, me incomodava bastante. Mesmo que eu esteja familiarizada com o fato de me machucar constantemente, não estou acostumada com a dor causada por esses machucados.
Mas admito que levei um susto quando sai da secretária e dei de cara com Hiiro.
- Mas que... - eu estava prestes a dizer algo. O que eu nunca vou saber.
- Desculpe ter te deixado sozinha. Mas tive um probleminha... - e olhou por cima do ombro, me inclinei pro lado a tempo de ver e reconhecer Takashi e Yuki virando no corredor das salas de aula. - Vem, eu consegui pra você uma dispensa do resto das aulas de hoje.
- E-eu não preciso disso...
- Então quer ir para a Educação Física hoje? - Educação Física... Só de pensar me deu arrepios. Conhecia bem o professor, mesmo que eu tivesse quebrado a perna ele não deixaria eu só olhar a aula sem um atestado médico, quem dirá de um simples machucado na perna. Mas eu realmente não gosto dessa aula, tenho extremo desinteresse em esportes. - Além de que, ouvi dizer que sua amiga Sandra esta planejando coisas para você nesta aula...
- Planejando cosias.... - A ideia me fez tremer. Sandra era uma ótima atleta, eu sei, ela tem total controle sobre sua força, velocidade e mira dentro das quadras. Seria fácil demais para ela mirar certeira na minha cara(ou na minha perna), alguém que mal sai do lugar na hora do jogo.
Só existia uma opção: - Então acho melhor ir pra casa mesmo.
Hiiro sorriu.
- Então vamos, eu te levo.
- Como?
- Esta achando mesmo que vou confiar em você para ir andando sozinha até em casa?
- Não estou tão mal assim!
Hiiro suspirou. - Mas do jeito que você é um imã para acidentes, é provável que machuque as duas pernas e até mais que isso... Além de que, esta chovendo muito lá fora no momento, e como fui eu quem a levou para a enfermaria nada mais justo que agora eu te leve também pra casa.
- N-não é preciso... - Tentei fugir disso.
- E eu ainda insisto Yasha. - Disse isso e me pegou pela mão.
Aquele toque gelado me fez sentir um tipo de corrente elétrica por todo meu corpo, era uma sensação ao mesmo tempo feliz e assustadora. Um dia descubro porque.
- Mas e você? Não tem aula também?
- História - ele disse, dando de ombros -, a professora não liga se eu faltar.
Fiquei sem desculpas a partir dai. O jeito foi deixar que ele me levasse.
Estava realmente chovendo bastante e fazendo muito frio do lado de fora do carro. Tentava observar a paisagem e esquecer que Hiiro estava ali do meu lado, ao meu alcance. Não conversamos muito, apenas quando eu sem querer pensei alto: "Aquela patricinha vai me pagar...". Hiiro riu e perguntou o que eu estava pensando em fazer, contei que não tinha muitas ideias mas que até mesmo empurrar ela de uma escada me faria feliz. Depois de mais alguns comentários sobre a Lauren mergulhamos em um completo silêncio. Bem desconfortante.
Quando paramos em frente a minha casa eu soltei um longo suspiro, não queria me afastar do dele. Queria conversar com ele, confessar todos os meus sentimentos de uma vez e me entregar a qualquer destino que fosse nos unir. A chuva começou a parar, como se também estivesse dizendo que era pra eu sair do carro. Até o clima esta contra mim.
Tive a sensação de que Hiiro também queria prolongar o momento porque me acompanhou até a porta, como se não quisesse me deixar. Mas não consigo acreditar muito nessa hipótese, e logo lembrei o porque de eu ter parado de falar com Hiiro nesses últimos dias.
Não entrei em casa, só me virei para ele, sem saber o que fazer.
- Hm... Então.. - Eu comecei.
- Sim?
- Acho que, obrigada. Por tudo.
- Claro.. - Hiiro, olhou para o chão, querendo dizer que não tinha nada mais a dizer.
Dei meia volta na intenção de entrar em casa. Com a chave na fechadura estava destrancando a porta quando senti Hiiro se aproximando de mim e em seguida sussurrando em meu ouvido.
- Me desculpe....
Congelei na ultima volta da chave. Meu coração acelerou, e logo senti meu sangue pulsar por todo meu corpo. Fiquei sem reação, parada por vários segundos tentando entender. Olhei para trás, na esperança de encontra-lo, mas já era tarde. O Eclipse Prateado já estava indo embora.
E eu fiquei ali mesmo, sem saber o que fazer ou o que esperar dali por diante.
Dentro de casa eu só pude suspirar apaixonada pelo resto do dia, pensava em como aquilo era loucura afinal, Hiiro me iludiu, e depois me deu um fora daqueles, agora vem dizendo que aquilo tudo não era um jogo. Será tão difícil eu aprender minha lição? Não posso cair nessa mesma mentira outra vez. Mas... E se for verdade? E se ele realmente... sente algo por mim? Mas então não teria feito aquilo comigo. Então porque?
Se ele ao menos me desse respostas! Mas não adiantaria perguntar nada a ele, Hiiro sempre dá um jeito de me driblar e não responder quando se trata desses assuntos.
Demo lambeu minha cara quando eu estava prestes a cair no sono.
- Qual é... Já são nove horas. Deveria deixar eu dormir Demo! - reclamei.
Ele me olhou por alguns segundos antes de deitar no tapete de costas pra mim. Provavelmente como quem fica emburrado. Levantei da cama olhando para o chão. Sentia todo o corpo leve, mas a mente pesada. Eu não parava de pensar em Hiiro, em tudo que estava acontecendo.
Na frustante tentativa de me livrar desses malditos pensamentos e informações que não cessavam de minha mente, peguei o meu caderno, e voltei a fazer o desenho. Com sorte, em pouco tempo meus olhos começaram a doer um pouco. O que significava uma coisa: Tinha chegado ao meu limite. A exaustão e o cansaço me venceram, e eu dormi como uma pedra.
Passaram-se os dias, e Hiiro passou a me observar a distância, como se esperasse que eu fizesse alguma coisa. Nas aulas de biologia ele era distante e indiferente comigo, mas não disfarçava quando me observava. Tentei, ao máximo, aproximar Scotty e Tiffany, pelo bem do que restou da minha amizade com ela. Agatha, por outro lado, estava mais reservada do que nunca então precisei dar uma "assistência de cupido", ao Theodore. Se bem que, quem precisava de uma ajuda de cupido era eu.
Preciso conversar com Hiiro mas.... Sobre o que exatamente?